… Depois de uma paragem de dois dias, que permitiu conhecer alguns dos locais mais emblemáticos da cidade da Beira e, respirar o ar quente e sufocante, à misturado com a praga de mosquitos gerada nas águas paradas do Rio Chiveve, é chegado o momento de regressar ao “Paquete Moçambique”, que saiu do cais da Beira às 10H00 da manhã, com destino à Ilha de Moçambique, (Ilhota localizado no Paralelo 15 S!)
(…After a two-day stop, which made it possible to get to know some of the most emblematic places in the city of Beira, and breathe in the hot, suffocating air mixed with the mosquito plague generated in the still waters of the Chiveve River, the time has come to return to board the “Paquete Moçambique”, which left the pier in Beira at 10 am in the morning, bound for Ilha de Moçambique, Ilhota located in Paralelo 15 S.)
Uma das vistas aéreas das Cataratas Vitória no Rio Zambeze, localizadas entre a Zâmbia e o Zimbabwe, com a maior queda de água do Mundo de 128 m de altura, declaradas pela UNESCO Património da Humanidade em 1989. (In addition to the aerial views of Victoria Falls on the Zambezi River, located between Zambia and Zimbabwe, with the largest waterfall in the world, 128 m high, declared by UNESCO a World Heritage Site in 1989.)
…o “Paquete Moçambique” navegava para Norte, rumo à Ilha de Moçambique, nas águas do canal de Moçambique, entre a costa da África Oriental Portuguesa, e a Ilha de São Lourenço (actual Madagáscar). — Tinha consciência de que a viagem de Cruzeiro iria terminar para mim em Porto Amélia, mas, que ainda tinha de fazer a viagem de cinco dias em viaturas militares pelas Picadas, onde tudo era de esperar. Só de pensar nestas coisas me fazia doer a Alma. — À noite, no “Paquete Moçambique” depois do jantar, para desanuviar o espírito, lá ia eu com os amigos João (Russo) e Mascarenhas, até ao Salão da 1ª classe assistir à actuação da orquestra e, por vezes dar um pé de dança com alguma turista sul africana, visto que, a partir de Porto Amélia a dança iria ser outra!
(… “Paquete Moçambique” sailed north towards Ilha de Moçambique, in the waters of the Mozambique channel, between the coast of Portuguese East Africa, and São Lourenço Island (present-day Madagascar). – I was aware that the cruise trip would end for me in Porto Amélia, but that I still had to make the five-day trip in military vehicles through the Picadas, where everything was to be expected. Just thinking about these things made my soul ache. – At night, at “Paquete Moçambique” after dinner, to unwind the spirit, there I went with friends João (Russo) and Mascarenhas, up to the 1st class room to watch the orchestra perform and, sometimes, take a walk. dance with some South African tourist, since, from Porto Amélia the dance would be different!)
Foz (por Delta) do Rio Zambeze ao desaguar no Oceano Indico. (Mouth (by Delta) of the Zambezi River when it flows into the Indian Ocean.)
…O Navio “Moçambique” navegava rumo a Porto Amélia no Canal de Moçambique, entre a Ilha Francesa de Juan de Nova e a costa Oriental de Moçambique, passando ao largo da foz do Rio Zambeze, rio que nasce na Zâmbia, passa por Angola, e depois estabelece fronteira entre a Zâmbia e o Zimbabwe, atravessando Moçambique de oeste para leste, onde estabelece fronteira entre as províncias de Sofala e Zambézia, indo desaguar no oceâneo Indico num enorme delta. — rio onde no sábado dia 21 de Junho de 1969 pelas 17H00, ocorreu uma tragédia com a coluna militar que se deslocava do Sul para Norte, aquando da travessia que estava a ser feita pelo batelão “São Martinho” entre Chupanga e Mopeia que, devido ao excesso de peso, começou a meter água, acabando por se afundar com 26 viaturas militares e 150 pessoas a bordo, sendo recuperadas 24 das 26 viaturas afundadas, e recuperados 102 corpos de Militares, ficando por recuperar duas viaturas e dois corpos de militares. Estava eu no Q.G. em Lourenço Marques a prestar serviço, desde 25 de Janeiro do mesmo ano!
(… The Ship “Mozambique” sailed towards Porto Amélia on the Mozambique Channel, between the French Island of Juan de Nova and the Eastern coast of Mozambique, passing by the mouth of the Zambezi River, a river that rises in Zambia, passes through Angola, and then it establishes a border between Zambia and Zimbabwe, crossing Mozambique from west to east, where it establishes a border between the provinces of Sofala and Zambézia, going into the Indian Ocean in a huge delta. – river where on Saturday, June 21, 1969 at 5 pm, there was a tragedy with the military column moving from South to North, during the crossing that was being made by the “São Martinho” barge between Chupanga and Mopeia which, due to excess weight, he began to pour water, eventually sinking with 26 military vehicles and 150 people on board, 24 of the 26 sunk vehicles being recovered, and 102 military bodies recovered, leaving two vehicles and two military bodies to be recovered. I was in the Q.G. in Lourenço Marques to provide service, since January 25 of the same year!)
Vista aérea da Ilha de Moçambique, situada na província de Nampula, com 3 Km de comprimento por varias larguras, não excedendo os 400 metros no ponto mais largo. A Ilha foi descoberta por Vasco da Gama no ano de 1498, aquando da descoberta do caminho marítimo para a India. (Aerial view of the Island of Mozambique, located in the province of Nampula, with 3 km in length by several widths, not exceeding 400 meters at the widest point. The island was discovered by Vasco da Gama in 1498, when he discovered the sea route to India.)
…A Ilha, cujo nome muitos nativos dizem ser Muipiti, foi ocupada pelos portugueses em 1507, que passaram a denominá-la por “Ilha de Moçambique”. — De acordo com o nome do Xeque Árabe que ali governava, “Mussa Bem-Bique” ou “Mussa Bin-Bique”, ou “Mussa Al-Mbique”, daí, extraíram o nome “Moçambique”, que, posteriormente seria atribuído a toda a colónia, vindo a Ilha (Ilha de Moçambique), a ser a primeira capital de toda a colónia. — A Ilha foi elevada à categoria de Vila em 1761 e, no ano de 1818 à de cidade. — O principal comércio da Ilha era a exportação de escravos para o Brasil, mas, com a Independência deste em 1822, a importação de escravos cessou, como o Brasil era o principal destino deste comércio, dá-se então o colapso económico da Ilha, o que veio a dar origem em 1898, a que a Ilha de Moçambique perdesse o estatuto de capital da colónia, em detrimento de Lourenço Marques!
(… The island, whose name many natives say is Muipiti, was occupied by the Portuguese in 1507, changing its name to “Ilha de Moçambique”. – According to the name of the Arab Sheikh who ruled there, “Mussa Bem-Bique” or “Mussa Bin-Bique”, or “Mussa Al-Mbique”, from there, they extracted the name “Mozambique”, which would later be attributed to the entire colony, coming to Ilha (Ilha de Moçambique), to be its first capital of the whole colony. – The island was elevated to the category of village in 1761 and, in the year 1818 to that of city. – The main trade on the Island was the export of slaves to Brazil, but, with its Independence in 1822, the importation of slaves ceased, as Brazil was the main destination of this trade, so the economic collapse of the Island occurs, which gave rise in 1898, to the island of Mozambique losing the status of capital of the colony, to the detriment of Lourenço Marques!)
…A Ilha de Moçambique está dividida em duas partes, a parte a norte é conhecida por “Cidade de Pedra”, onde os edifícios habitacionais e os monumentos históricos, foram construídos a “Pedra e Cal”, a parte a sul da Cidade da Pedra, está o “Bairro Makuti” ou “Cidade de Makuti”, situada abaixo do nível das águas do mar, área onde vive a maioria da população insular, em casas de construção precária, cobertas com folhas de palmeira ou coqueiro seco “Makuti”. A localização a este nível do Bairro Makuti, deve-se ao facto de ter sido este o local de onde foram retirados os materiais (Pedra e Areia), usados nas construções da parte a norte da Ilha, denominada por Cidade de Pedra!
(…Ilha de Moçambique is divided into two parts, the northern part is known as “Cidade de Pedra”, where housing buildings and historical monuments were built “Pedra e Cal”, the southern part of Cidade da Pedra , is the “Bairro Makuti” or “Cidade de Makuti”, located below sea level, an area where the majority of the island population lives, in houses of precarious construction, covered with palm leaves or “Makuti” dry coconut. The location at this level of Bairro Makuti, is due to the fact that this was the place where the materials (Stone and Sand) were used, used in the constructions of the northern part of the Island, called Stone Town!)
…Pela manhã de sexta-feira dia 3 de Abril, chegamos à Ilha de Moçambique, onde permanecemos um dia (mais ou menos), que ainda deu para ir visitar a Ilhota do Paralelo 15 S, na companhia dos amigos músicos da orquestra do paquete “Moçambique”. como não tinha máquina fotográfica, coisa que nunca pensei comprar, nem sequer tinha dinheiro para isso, como tal, não tirei fotos, mas, tudo o que visitei e vi, ainda hoje ao fim de 51 anos, se encontra guardado no meu Bau, onde ainda guardo muitas das memórias vividas. (…) Recordo uma cena que se passou na Ilha com o Mascarenhas (chefe da orquestra), num restaurante local onde fomos jantar. O Mascarenhas foi impecável para mim durante toda a viagem a bordo do “Moçambique”, mas, segundo me contou o João Russo, era um homem muito desordeiro, no barco estava sempre a arranjar problemas, sendo chamado com frequência à presença do comandante do navio. À mesa do restaurante, criou uma desordem com habitantes locais, que nos obrigou a abandonar o restaurante, e vir rapidamente para o barco, procurando evitar a cena de pancadaria que se estava a crer gerar. Era assim o temperamento que eu desconhecia do Mascarenhas, homem Lisboeta, que vivia na Nazaré!
(… On the morning of Friday the 3rd of April, we arrived at Ilha de Moçambique, where we stayed for a day (more or less), which still allowed us to visit the Islet of Paralelo 15 S, in the company of the musician friends of the packet orchestra “Mozambique”. as I didn’t have a camera, which I never thought to buy, I didn’t even have the money for it, so I didn’t take photos, but everything I visited and saw, even today after 51 years, is stored in my Bau, where I still keep many of the memories lived. (…) I remember a scene that took place on the island with Mascarenhas (head of the orchestra), in a local restaurant where we went to dinner. Mascarenhas was impeccable for me during the entire trip aboard “Mozambique”, but, according to João Russo, he was a very disorderly man, on the boat he was always getting into trouble, and he was frequently called to the presence of the ship’s captain . At the restaurant table, he created a disorder with locals, which forced us to leave the restaurant, and quickly come to the boat, trying to avoid the beating scene that was believed to be generating. That was the temperament I did not know about Mascarenhas, a man from Lisbon, who lived in Nazaré!)
A Ilha de Moçambique está ligada ao continente (Província de Nampula), por uma ponte com 3,8 km de comprimento, construída na década de 1960, que cruzei duas vezes no dia 3 de Abril de 1970. (Ilha de Moçambique is connected to the mainland (Nampula Province), by a 3.8 km long bridge, built in the 1960s, which I crossed twice on April 3, 1970.)
…Estátua do navegador português Vasco da Gama, na praça em frente do antigo Palácio dos Capitães-Generais, na Ilha de Moçambique, descobridor de Moçambique no ano de 1498. Deixamos para trás a Ilhota do Paralelo 15, regressando ao “Paquete Moçambique”, para iniciarmos a terceira e última etapa “Ilha de Moçambique – Porto Amélia”, cidade onde iria terminar o meu inesquecível cruzeiro de sete dias!…
(… Statue of the Portuguese navigator Vasco da Gama, in the square in front of the old Palácio dos Capitães-Generais, on the Island of Mozambique, discoverer of Mozambique in 1498. We left the Islet of Paralelo 15 behind, returning to “Paquete Moçambique”, to start the third and final stage “Ilha de Moçambique – Porto Amélia”, the city where my unforgettable seven-day cruise ended! …)
Até à próxima publicação. Fiquem bem!
Fernando Pedro, 25 de Maio de 2021
Olá Fernando. Simplesmente gostei. Os factos são impressionantes, onde algumas passagens de cenário de guerra descrevem alguns momentos que ainda hoje nos causam algum trauma. Tony Borie.
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