…À medida que o tempo avança, mais saudosos nos tornamos dos tempos que já não voltam, das recordações que guardamos de uma época vivida em África, no meu caso (Moçambique), onde quem por lá passou deixou um bocado de si próprio, e, onde muitos acabariam por perder tudo o que haviam sonhado para a vida…os que regressaram, esses trouxeram com eles recordações que já mais esquecerão, só a lei da vida um dia as apagará…! (… As time goes on, we become more homesick for the times that never come back, for the memories we have of a time lived in Africa, in my case (Mozambique), where those who passed by left a lot of themselves own, and, where many would end up losing everything they had dreamed of for life…those who returned, those brought with them memories that they will forget, the law of life will only one day erase them…)!.

…Era domingo de “Páscoa”, dia 6 de Abril de 1969, foi o dia que escolhemos para dar um saltinho ao outro lado da Baía até à Catembe!.. Logo pela manhã, fomos até à paragem do Machibombo no princípio da Av. 24 de Julho, na zona da Polana, que ficava a uns cem metros da casa onde estávamos hospedados, (Av. António Enes nº368) em frente à farmácia Pigale, perto do restaurante “Piripíri”, para irmos até à doca no cais Gorjão, apanhar o “Ferry-boat” (Catembeiro ou o Gasolina), que nos levaria até á “Catembe”!. (…It was “Easter” Sunday, April 6, 1969, it was the day we chose to take a short jump across the Bay to Catembe!… Early in the morning, we went to the Machibombo stop at the beginning of Av. 24 de Julho, in the Polana área, which was about a hundred meters from the house where we were staying, (Av. António Enes nº 368) in front of the Pigale pharmacy, near the “Piripíri” restaurant, to go to the dock at Gorjão pier, take the “Ferry-boat” (Catembeiro or Gasolina), which would take us to “Catembe”)!.
Cais de embarque/desembarque (Catembe-Lourenço Marques) na “Catembe”. (Embarkation / disembarkation wharf (Catembe-Lourenço Marques) at “Catembe”).
…A travessia da Baía do Espírito Santo «Lourenço Marques/Catembe, e vice-versa», uma distancia de uns mil e poucos metros, levava uns trinta e cinco minutos, a fazer numa das “Balsas” que faziam a travessia entre as margens. Não recordo ao certo o preço de cada viagem, mas, penso que eram uns (três escudos e cinquenta centavos) Moçambicanos. Depois de algumas manobras, a “Balsa” atraca ao cais que, depois de percorremos o pontão começamos a pisar terras da Catembe!. (…The crossing of Baía do Espírito Santo «Lourenço Marques / Catembe, and vice versa», a distance of about a thousand meters, took about thirty-five minutes to do in one of the “Balsas”, which crossed two two hours between the banks. I do not remember for sure the price of each trip, but, I think there were some (three escudos and fifty cents) Mozambicans. After a few maneuvers, the “Balsa” moored to the pier which, after crossing the pontoon, started to set foot on Catembe land)!.
Foto parcial da praia da Catembe, obtida do Pontão. (Partial photo of Catembe beach, obtained from Pontão).
…Já na Catembe, caminhamos por uma estrada de areia um a dois quilómetros até chegarmos ao nosso destino, que era a Tasca/Restaurante do senhor Diogo, um homem indiano ou paquistanês que, como tantos outros, depois do exército da União Indiana invadir o Estado da India Portuguesa a 17 de Dezembro de 1961, com receio a represálias por parte das autoridades da União Indiana, muitos acabaram por se refugiar em Moçambique. Estas pessoas de origem Indiana ou paquistanesa, eram identificadas por “Monhé”. Eram e ainda hoje o são, pessoas que se dedicam somente ao negócio (gás stations, restaurantes, supermercados e outros pequenos estabelecimentos comerciais de qualquer tipo). O senhor Diogo abriu esta Tasca/Restaurante à beira-mar virado a Lourenço Marques, num local privilegiado, com vistas espectaculares para a cidade, onde confecionava e servia pratos de marisco, em especial aos Laurentinos, que aos fins de semana procuravam a Catembe, para desfrutarem das suas praias e dos bons pratos de marisco fresco preparados na Tasca/Restaurante do senhor Diogo!.
Cidade de Lourenço Marques vista da esplanada do Restaurante Diogo. (City of Lourenço Marques seen from the terrace of Restaurante Diogo).
(…Once in Catembe, we walk along a sandy road one to two kilometers until we reach our destination, which was the Tasca / Restaurant of Senhor Diogo, an Indian or Pakistani man who, like so many others, after the Indian Union army invading the State of Portuguese India on December 17, 1961, fearing reprisals from the authorities of the Indian Union, many ended up taking refuge in Mozambique. These people of Indian or Pakistani origin, were identified by “Monhé”. They were and still are today, people who are dedicated only to business (gas stations, restaurants, supermarkets and other small commercial establishments of any kind). Senhor Diogo opened this Tasca / Restaurant by the sea facing Lourenço Marques, in a privileged location, with spectacular views of the city, where he cooked and served seafood dishes, especially the Laurentines, who on weekends looked for Catembe, to enjoy its beaches and the good fresh seafood dishes prepared in Tasca / Senhor Diogo’s Restaurant)!.
…Ao final da tarde depois de nos deliciarmos com uns pratos de Camarões fritos, temperados com um molho especial preparado pelo Sr. Diogo, acompanhados com umas cervejas 2M ou Laurentinas, chegou a hora de regressar a Lourenço Marques, mais concretamente à Praça Mac Mahon, onde iriamos apanhar o Machibombo identificado com a placa «5 Polana», que nos levaria de regresso ao local onde de manhã havíamos partido. (…) Eram os pratos de Camarão que o sr. Diogo preparava e temperava com um molho delicioso, mas fortemente picante, que nos levava a ir à Catembe, no entanto, tinha-se de ter muito cuidado com o molho picante preparado pelo Sr. Diogo! Quando o amigo Nóbrega, que já se encontrava no final da comissão em Moçambique, conhecedor da Catembe e do prato de camarões fritos pelo Sr. Diogo, nos levou lá pela primeira vez, avisou-nos para termos cuidado com o molho, pois no dia seguinte, quando fossemos à casa de banho fazer as necessidades maiores, ficaríamos com o rabo a arder durante uns dez minutos, não acreditamos, pensamos que ele estava a reinar connosco mas, no dia seguinte concluímos que o Nóbrega falava verdade, o Rabo ardia mesmo…Os camarões eram tão saborosos, que valia a pena sofrer dez minutos no dia seguinte!.
Domingo de Páscoa em Moçambique/Catembe, em 6 de abril de 1969 – Pedro e Nóbrega de pé, foto tirada nas dunas da praia da Catembe. (Easter Sunday in Mozambique / Catembe, on April 6, 1969 – Pedro and Nóbrega standing, photo taken in the dunes of Praia da Catembe).
(… At the end of the afternoon after enjoying some fried shrimp dishes, seasoned with a special sauce prepared by Mr. Diogo, accompanied by 2M or Laurentine beers, it is time to return to Lourenço Marques, more specifically to Praça Mac Mahon, where we would take the Machibombo identified with the sign “5 Polana”, which would take us back to the place where we had left in the morning. (…) It was the shrimp dishes that mr. Diogo prepared and seasoned it with a delicious sauce, but strongly spicy, which led us to go to Catembe, however, we had to be very careful with the hot sauce prepared by Mr. Diogo! When friend Nóbrega, who was already at the end of the commission in Mozambique, who knew about Catembe and the fried shrimp dish by Mr. Diogo, took us there for the first time, he warned us to be careful with the sauce, because on the day next, when we went to the bathroom to do the biggest needs, we would have our tail burning for about ten minutes, we did not believe it, we thought he was reigning with us, but the next day we concluded that Nóbrega was speaking the truth, Rabo really burned …The prawns were so tasty, it was worth ten minutes the next day)!
Hambanine, até ao próximo post!
Fernando Pedro, Março de 2021
Olá Amigo Fernando.
A maldição de um combatente é que nunca esquece!.
Esta recordação de Moçambique ficou na sua memória, porque trata um momento único com amigos combatentes, envolvendo ingredientes únicos que não mais se encontram em qualquer outro lugar, talvez até no mundo!. Por mais voltas que queremos dar, o pensamento está lá, e porquê?. Porque quando jovens, fizémos um juramento ao nosso país e, viveremos por esse juramento até ao dia da nossa morte, porque somos e seremos sempre “um VETERANO DE GUERRA”!.
Um abraço Fernando, Tony Borie.
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