…Depois de andar aos trambolhões por Leiria, Porto, e por fim na Trafaria, duas semanas antes do fim do ano (1968), como se estava a aproximar a quadra Natalícia, alguém se lembrou de mim e, como presente de Natal, ofereceram-me uma viagem só de ida para África, (como não sabiam se eu regressava, para que raio iam gastar dinheiro na viagem de regresso)? sendo obrigado a deixar entregue ao cuidado dos pais, a minha esposa e uma filhinha com seis meses, enfiado no Paquete “Niassa”, lá foi o Pedro para África — Lourenço Marques-Moçambique!. (…After walking around Leiria, Porto, and finally in Trafaria, two weeks before the end of the year (1968), as the Christmas season was approaching, someone remembered me and, as a Christmas gift, they offered me a one-way trip to Africa, (how did they not know if I was going back, what the hell were they going to spend money on the return trip)? being obliged to leave my wife and a six-month-old daughter to the care of her parents, tucked in the “Niassa” package, Pedro went to Africa – Lourenço Marques-Mozambique)!.
…estávamos no primeiro sábado do ano, 4 de janeiro de 1969, quando por volta das 12 horas, ao som das marchas da (extinta) Banda de Caçadores nº5, sons que eram abafados pelos gritos das mães, esposas, familiares e amigos, dos dois mil e duzentos militares a bordo do “Niassa”, que aguardava ordens para se fazer ao mar, que quiseram estar presentes no Cais de Alcântara em Lisboa, para abraçar, para se despedirem do seu querido filho, do seu marido, do amigo que partia para a Guerra , sem adivinharem que aquele adeus, para muitos seria um adeus final, o seu último adeus)!. (…It was the first Saturday of the year, January 4, 1969, when around 12 o’clock, at the sound of the marches of the (extinct) Banda de Caçadores nº5, sounds that were drowned out by the cries of mothers, wives, family and friends, of two thousand and two hundred soldiers aboard the “Niassa”, who was waiting for orders to go to the sea, wanted to be present at the Alcântara Wharf in Lisbon, to embrace, to say goodbye to their beloved son, her husband, the departing friend for the War, without guessing that that goodbye, for many would be a final goodbye, their last goodbye!).
…há pouco mais de 523 anos, D. Manuel I nomeou o Capitão Vasco da Gama, para comandar a Armada que tinha como missão, descobrir o caminho marítimo até à India, armada que era composta por quatro Naus: São Gabriel, comandada por Vasco da Gama, tendo como Escrivão Diogo Dias — São Rafael, pelo seu irmão Paulo da Gama — Bérrio, comandada por Nicolau Coelho, e uma outra Nau de apoio logístico, comandada por Gonçalo Nunes, expedição que zarpou do Cais das Colunas no Terreiro do Paço, no sábado dia 8 de Julho de 1497, regressando a Portugal passados dois anos, a 12 de Julho de 1499. Apenas a Nau São Rafael não regressou, devido ao reduzido número de tripulação que, devido à morte de mais de metade dos homens causadas por doenças, dificultava o manobrar da Nau, o que levou a que a Nau São Rafael fosse queimada!.
(…just over 523 years ago, D. Manuel I appointed Captain Vasco da Gama, to command the Navy that had the mission, to discover the sea route to India, armed with four ships: São Gabriel, commanded by Vasco da Gama, with Diogo Dias – São Rafael, as Registrar, by his brother Paulo da Gama – Bérrio, commanded by Nicolau Coelho, and another logistical support ship, commanded by Gonçalo Nunes, an expedition that left the Cais das Colunas in Terreiro do Paço , on Saturday 8 July 1497, returning to Portugal after two years, on 12 July 1499. Only the Nau São Rafael did not return, due to the reduced number of crew that, due to the death of more than half of the men caused due to diseases, it made it difficult to maneuver the Nau, which led to the Nau São Rafael being burned)!.
…o comandante da armada capitão Vasco da Gama, faz-se ao mar com a missão de descobrir o caminho marítimo para a India, seguindo a Rota estabelecida por outro também navegador português, Bartolomeu Dias que, no ano de 1488 dobrou pela primeira vez, o extremo meridional do continente africano, o Cabo das Agulhas, fazendo a ligação do oceano Atlântico ao oceano Indico, proeza extraordinária que ficou na história dos descobrimentos, por ser o primeiro navegado Europeu a dobrar o Cabo das Agulhas. (…) as violentas tempestades que tiveram de enfrentar durante dias para o dobrarem, levou Bartolomeu Dias a pôr-lhe o nome de “Cabo das Tormentas”. O cansaço, a exaustão causada pelas tempestades que tiveram de enfrentar para dobrar o Cabo, levou a tripulação a revoltar-se, obrigando Bartolomeu Dias a regressar a Portugal, caso contrário, possivelmente Bartolomeu Dias teria chegado à India. (…) quando regressou a Lisboa e deu a notícia ao Rei D. João II, narrando a epopeia da sua viagem, acontecimento que abria a porta ao tão desejado caminho para oriente (India), com a notícia, D. João II mudou-lhe o nome para Cabo da Boa Esperança!. (…The commander of the armada captain Vasco da Gama, takes to the sea with the mission of discovering the sea route to India, following the Route established by another Portuguese navigator, Bartolomeu Dias, who, in 1488, doubled for the first time, the southernmost tip of the African continent, Cabo das Agulhas, connecting the Atlantic Ocean to the Indian Ocean, an extraordinary feat that remained in the history of the discoveries, as it was the first European sailor to double the Cabo das Agulhas. (…) The violent storms that had to face for days to double it, led Bartolomeu Dias to call it “Cabo das Tormentas”. The tiredness, the exhaustion caused by the storms they had to face to turn the Cape, led the crew to revolt, forcing Bartolomeu Dias to return to Portugal, otherwise, possibly Bartolomeu Dias would have arrived in India. (…) When he returned to Lisbon and gave the news to King D. João II, narrating the epic of his journey, an event that opened the door to the much desired path to the east (India), with the news, D. João II changed you name it Cabo da Boa Esperança)!.
…então não é, que passados 472 anos, o “Paquete Niassa” para dobrar o Cabo das Tormentas—Cabo da Boa Esperança, (Cabo das Agulhas), mas vamos chamar-lhe Cabo da Boa Esperança como D. João II lhe chamou, o comandante do Niassa, também ele seguiu um pouco mais ou menos, a Rota estabelecida por Bartolomeu Dias em 1488, para o dobrar o Cabo e chegar a Lourenço Marques-Moçambique!. (…) So, it is not, that after 472 years, the “Paquete Niassa” to fold the Cabo das Tormentas — Cabo da Boa Esperança, (Cabo das Agulhas), but we will call it Cabo da Boa Esperança as D. João II called, the commander of Niassa, he too followed a little more or less, the Route established by Bartolomeu Dias in 1488, to double it and reach Lourenço Marques-Mozambique)!.
…depois de andar às voltas sobre quem e quando contornou pela primeira vez o Cabo das Agulhas (Cabo das Tormentas/Cabo da Boa Esperança), para que passados 472 anos, a bordo do Paquete Niassa, pudesse ao fim de 21 dias (25 de Janeiro de 1969), desembarcar em Terras Moçambicanas-Lourenço Marques!. (…After walking around who and when he first went around Cabo das Agulhas (Cabo das Tormentas / Cabo da Boa Esperança), so that 472 years later, on board Paquete Niassa, he could after 21 days (25 January 1969), disembark in the Mozambican Lands-Lourenço Marques)!.
…por volta das doze horas do dia 4 de janeiro de 1969, o Niassa larga do Cais de Alcântara, ao mesmo tempo que fazia soar três fortes apitos (sinal de que ia partir), deslizando nas águas do Tejo, passa por debaixo da então chamada Ponte Salazar, depois passa em frente ao Padrão dos Descobrimentos ou, (Monumento aos Descobrimentos ou, Monumento aos Navegantes), monumento escultórico de beleza rara, erguido na margem direita do Tejo, para relembrar o passado glorioso de Portugal. Na mesma margem do Rio, que outrora foi uma fortificação de defesa da bacia do Tejo, destacasse a “Torre de São Vicente”, mandada erigir por D. João II em 1514, conhecida simplesmente por “Torre de Belém”, classificada em 1983 como Património Mundial da UNESCO!. (…around twelve o’clock on the 4th of January 1969, the Niassa broad from the Alcântara Wharf, while sounding three loud whistles (signal that it was going to leave), sliding in the waters of the Tagus, passes under the then called Salazar Bridge, then passes in front of the Padrão dos Descobrimentos or, (Monument to the Discoveries or Monument to the Navigators), a sculptural monument of rare beauty, erected on the right bank of the Tagus, to remember Portugal’s glorious past. On the same bank of the River, which was once a defense fortification for the Tagus basin, it is worth mentioning the “Torre de São Vicente”, built by D. João II in 1514, known simply as “Torre de Belém”, classified in 1983 as UNESCO World Heritage)!.
…um pouco antes de entrar-mos nas águas do oceano Atlântico, passamos pelo “Forte de São Lourenço da Cabeça Seca” ou, simplesmente “Torre do Bugio”, onde se encontra instalado o “Farol do Bugio”, que outrora funcionava a Azeite, mandado construir em 1590 por Filipe II de Espanha, (segundo Rei durante a terceira dinastia), aquando da Dinastia Filipina, que governava Portugal em simultâneo com Espanha, entre 1580 e 1 de Dezembro de 1640, dia da Restauração!. (…just before entering the waters of the Atlantic Ocean, we passed the “Fort of São Lourenço of Cabeça Seca” or, simply “Torre do Bugio”, where the “Farol do Bugio” is installed, which used to work Olive Oil, built in 1590 by Philip II of Spain, (second King during the third dynasty), during the Philippine Dynasty, which ruled Portugal simultaneously with Spain, between 1580 and 1 December 1640, Day of Restoration)!.
…o “Niassa” entra em águas do oceano Atlântico, navegando para Sul, onde passados 9 dias de viagem, a 13 de janeiro de 1969, chega a Luanda-Angola, onde atracou para logística!?, visto que o nosso destino era Moçambique e não Angola. Deram-nos umas dez horas com autorização para visitar a cidade, recordo que fui ao Bairro da Cuca de Machibombo, à procura de um conterrâneo proprietário da Cervejaria Alcobaça, onde tomei pela primeira vez Cerveja Cuca, de seguida foi visitar o verdadeiro Bairro da Cuca, onde do que eu gostava havia muito… foram umas horas bem passadas, que deram para ficar com uma ideia da cidade de Luanda, do clima africano, e do que me esperava em Lourenço Marques!. (…Niassa enters the waters of the Atlantic Ocean, sailing south, where after 9 days of travel, on January 13, 1969, he arrives in Luanda-Angola, where he docked for logistics!?, Since our destination was Mozambique and not Angola. We were given about ten hours with permission to visit the city, I remember I went to “Bairro da Cuca” in Machibombo, looking for a fellow owner of Cervejaria Alcobaça, where I had my first Cerveja Cuca, then went to visit the real Bairro da Cuca , where I liked it for a long time … it was a few hours well spent, which gave me an idea of the city of Luanda, the African climate, and what was waiting for me in Lourenço Marques)!.
…depois de toda a logística concluída, o “Niassa” zarpa do cais de Luanda, retomando a sua rota com destino a Lourenço Marques. (…) instalado num beliche improvisado num dos porões do navio, tendo como companhia centenas de camaradas, com refeições servidas no Convés, num sistema de self-service, com caldeirões montados á Ré e na proa, onde os faxinas escalados pelo nosso grupo, se dirigia para receber uma terrina de sopa, uma de segundo, uma cafeteira de vinho, pão e fruta que, sentados no chão, comíamos como se estivéssemos num piquenique. Ao fim de 21 dias, depois de dobrarmos o “Cabo da Boa Esperança”, o “Niassa” entra finalmente nas águas da Baia do Espírito Santo, atracando no cais de Lourenço Marque, a 25 de Janeiro de 1969, a partir deste momento, tudo eram incertezas e sofrimentos…e mais não digo!. (…after all the logistics were completed, the “Niassa” set sail from the Luanda quay, resuming its route to Lourenço Marques. (…) Installed in a makeshift bunk in one of the ship’s holds, with hundreds of comrades, with meals served on the deck, in a self-service system, with cauldrons mounted aft and at the bow, where the cleaners climbed by our group, he went to receive a soup bowl, a second one, a coffee pot of wine, bread and fruit which, seated on the floor, we ate as if we were at a picnic. At the end of 21 days, after bending the “Cabo da Boa Esperança”, the “Niassa” finally enters the waters of the Bay of Espírito Santo, docking at the Lourenço Marque pier, on the 25th of January 1969, from this moment on, everything was uncertainties and suffering … and more I do not say)!.
Pimenta Pedro, Dezembro de 2020